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Relato sobre o 5º Seminário: amadurecimento e perspectivas para o futuro

  • Foto do escritor: Labor Movens
    Labor Movens
  • 15 de out.
  • 13 min de leitura

Carolina Castellitti | UERJ/Labor Movens

O 5° Seminário Perspectivas Críticas Sobre o Trabalho no Turismo, organizado pelo Labor Movens: Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão, vinculado ao Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília (CET/UnB), aconteceu em Brasília (DF) entre os dias 1° e 4° de outubro de 2025. Com o tema “Dignidade do Trabalho no Turismo: Novas Fronteiras de Luta”, o seminário reuniu especialistas, pesquisadores, referentes e estudantes de todo o país para refletir sobre o modo como o trabalho no turismo no Brasil espelha as desigualdades sociais que permeiam o país, mas também para imaginar coletivamente novas frentes de luta para a garantia de direitos. Fiel ao contexto atual de mobilizações de uma sociedade civil cansada de tanta exploração, “o fim da jornada 6x1” foi o lema que alentou os debates, cientes do modo como esse tipo de regimes afeta os trabalhos característicos do turismo. Para que todas, todos e todes tenham vida além do trabalho, para que empregados vejam seus filhos mais do que seus chefes, para que os serviços turísticos e de lazer sejam realizados por pessoas que também tenham acesso a turismo e lazer de qualidade, pela autodeterminação dos povos e o fim do genocídio em Gaza: foram essas as consignas que colocaram ideias e pesquisas em movimento durante a quinta edição do seminário.


A partir de uma convocatória ampla e democrática, a organização do evento foi produto, também, de um trabalho plural e coletivo. Com a coordenação de Angela Teberga e Thiago Melo, professores da Universidade de Brasília e líderes do grupo de pesquisa Labor Movens, a comissão organizadora foi composta por 17 pesquisadores de diferentes instituições brasileiras, agrupados em quatro subcomissões: científica, comunicação, finanças e secretaria. Por outro lado, a realização do seminário não teria sido possível sem a colaboração dos monitores, estudantes do curso de turismo da UnB, e sem o apoio do Centro de Excelência em Turismo, do SESC/DF, da CONTRACS/CUT e da Campanha "Sem Direitos Não é Legal". Além dos palestrantes convidados, foram recebidas 92 inscrições e 27 submissões de trabalhos científicos, por meio do site criado para esta quinta edição, das quais 11 foram apresentados oralmente durante o evento.


Parte da Comissão Organizadora
Parte da Comissão Organizadora

No dia 1 de outubro, após o credenciamento, a solenidade de abertura teve início às 14hs, em uma ensolarada e calorosa tarde, típica dessa época no cerrado. A mesa contou com a presença de Rafael Guerra, Coordenador da Campanha “Sem Direitos Não é Legal”, que luta pelos direitos de trabalhadores e sindicatos do fast food. Rafael se referiu aos problemas desses trabalhadores, em geral jovens que recém ingressam ao mercado de trabalho, tem pouca experiência e consciência dos seus direitos, e, portanto, não conseguem identificar facilmente e denunciar comportamentos dos superiores enquadráveis como assédio. Além do acompanhamento para protocolização de denúncias, Rafael mencionou outras iniciativas da organização, como a criação de uma cartilha e a proposta de um projeto de lei de treinamento. A continuação, ouvimos a Cintia Gontijo, Diretora de Programas Sociais do SESC/DF, que falou da importância de promover a dignidade no trabalho como valor e do compromisso do Sesc com o turismo como ferramenta de transformação dos territórios. Seguidamente, Fátima Alves, Diretora do SECHOSC/CONTRACS/CUT, se referiu as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores do comércio e dos impactos no setor das transformações recentes do mundo do trabalho, caracterizadas pela precarização. Enfatizou a necessidade de fortalecer a solidariedade por meio da organização coletiva, para a defesa da dignidade e contra a exploração.


O professor Thiago de Melo deu continuidade à mesa referindo-se ao trabalho realizado pelo Labor Movens, produto de uma disposição para sustentar um debate muitas vezes indigesto. Por outro lado, o grupo vem contando com uma importante parceria com movimentos sociais, na luta pelo turismo como ferramenta de fortalecimento territorial. O professor defendeu a importância da práxis acadêmica emancipatória, em que a construção de teoria aconteça de forma sensível e engajada. Seguidamente, a mesa contou com a fala da professora Marutschka Moesch, diretora do CET/UnB, que apontou a sintonia dos debates propostos no evento com a agenda parlamentar, que no momento estava tratando temas como a isenção de imposto de renda para salários de até R$5.000, a PEC da blindagem, a taxação dos super-ricos e a reforma administrativa. Se referiu também aos desafios do turismo na atualidade, com fluxos inéditos em 2025, e a importância de defender a dignidade no trabalho em um serviço caracterizado pela grande contradição de ser realizado durante o lazer dos outros. Mencionou, por fim, o compromisso da Universidade de Brasília pela educação dos futuros profissionais em turismo, visando o desenvolvimento de sujeitos-cidadãos conscientes dos seus direitos. A mesa finalizou com a importante presença da Reitora da UnB, professora Rozana Naves, quem se referiu aos 30 anos da criação do CET, lembrando das discussões sobre o papel estratégico do turismo como campo acadêmico, com potencial para a produção de conhecimento e o avanço científico e tecnológico.


No mesmo dia, às 15:30, teve início a Mesa 1: “A dignidade do trabalho no século XXI: pelo que lutamos?”, com palestras dos professores Caio Antunes (UFG) e Marcela Soares (UFRJ), e de Lys Sobral, do Ministério Público do Trabalho, e a mediação da professora Angela Teberga (UnB). As apresentações dos professores versaram sobre os fundamentos materiais, políticos e econômicos do trabalho na atualidade, segundo a trilha da teoria marxista contemporânea. Antunes ponderou a condição estrutural das crises no capitalismo, com suas recessões e respostas do capital ao longo do século XX, considerando a reestruturação produtiva atual, em sua fase neoliberal, ancorada na tecnologia e organizada na forma de um capitalismo plataformizado. A professora Marcela Soares lembrou que a precariedade estruturante do capitalismo brasileiro é embasada na escravização e na expropriação de territórios, direitos e da própria condição humana. Lembrou, assim, que a busca por dignidade no trabalho exige compreender os limites estruturais desta sociabilidade, onde as liberdades somente são alcançadas por meio de lutas. Existem limites estruturais, mas é necessário disputar cotidianamente cada retrocesso. Por tanto, a violação da dignidade é constitutiva do trabalho no Brasil, em uma hierarquia de nações e sujeitos que situa os trabalhadores racializados em uma condição rebaixada, como exército de reserva secundário. Dentre os desafios atuais, mencionou os debates sobre a “pejotização”, a plataformização e o processo de endividamento da classe trabalhadora, assim como a mistificação dessas condições por meio do empoderamento feminino e negro, que leva à pulverização das pautas identitárias. A professora encerrou sua fala recuperando alguns elementos imediatos da luta, como o cancelamento da PEC do teto de gastos públicos, a necessidade de reverter a reforma trabalhista, a aprovação da PEC 8 sobre o fim da jornada 6x1 e a luta pela reforma agrária.


A última palestra do dia foi proferida por Lys Sobral Cardoso, do Ministério Público do Trabalho, que elencou as tarefas da instituição no combate ao trabalho análogo ao escravo, ao tráfico de pessoas, ao trabalho infantil, aos atos anti-sindicais, às fraudes nas relações de trabalho, dentre alguns dos temas que classificam as principais denúncias recebidas e investigadas. Sobral desenvolveu 3 casos emblemáticos investigados pelo Ministério Público do Trabalho, dentre os quais expôs de modo mais detalhado o caso de Moïse, trabalhador congolês assassinado brutalmente no Rio de Janeiro em 2022. Trabalho análogo ao escravo, racismo estrutural, trabalho de risco durante a pandemia, falta de acesso ao banheiro, fome, ausência de registro, jornadas de entre 10 e 12 horas, falta de folga e descanso adequado, trabalho por comissão, atraso ou falta de pagamento foram algumas das condições detectadas na investigação do caso, cujo processo está disponível na internet para consulta. Além das investigações e denúncias, Sobral resgatou o trabalho feito pelo órgão em relação às demandas de reconhecimento de novas formas de trabalho, como o trabalho quilombola.


Finalizadas as falas, teve lugar um rico debate sobre as diferenças entre as noções de trabalho digno e trabalho decente, os avanços e limites da legislação na penalização das violações, a lugar do trabalho no Estado de bem-estar social e suas limitações, e as disputas no interior dos órgãos de controle (a partir, por exemplo, das iniciativas em torno de política de cotas para o funcionário público). A jornada foi encerrada com uma mesa de lançamento de livros, que contou com a participação de Carolina Castellitti, autora de Anfitriãs do Céu: Carreira, Crise e Desilução a Bordo da Varig (Telha, 2021); Igor Sanches, autor de Inferno em Alto Mar: Desventuras do Trabalho a Bordo de Navios de Cruzeiro (Viseu, 2025); e Michel Alves Ferreira, autor de Para o Menino Negro que Fui Ensinado a Desprezar: Sobre umas Notas e Trocas Afetivas (Editora Devires, 2024).


No dia 2 de outubro, as atividades foram retomadas de manhã com as apresentações dos grupos de trabalho. No GT 1 “Comunidades locais e trabalhadores/as no turismo”, que recebeu 5 resumos de pesquisadores interessados no assunto, foram efetivamente apresentados dois trabalhos. O primeiro, de autoria da professora Edilaine Albertino de Moraes (UFJF), com o título “Turismo da Reforma Agrária e Trabalho no Assentamento Dênis Gonçalves” (Goianá, Minas Gerais); e o segundo da professora Monique de Oliveira Serra (IFMA), com o título “Trabalhadores que atuam nos passeios turísticos no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses: o caso do município de Barreirinhas Apresentador: Monique de Oliveira Serra”. A continuação, aconteceu o Grupo de Trabalho “Turismo e interdisciplinariedades”, que contou com a apresentação oral de 4 trabalhos. A primeira foi a professora Edilaine Albertino de Moraes (UFJF), esta vez com o trabalho “Paradoxos no turismo, pessoas em situação de rua e promoção da saúde: notas investigativas em Juiz de Fora (MG)”; a continuação, ouvimos a apresentação do professor Michel Alves Ferreira (UNEMAT) e de Jacqueline França de Lira “Cultura, memória, turismo e acessibilidade em feiras”; depois foi a vez o professor Thiago Bicalho (CEFET-MG), com o trabalho “Afroturismo e trabalho: uma revisão sistemática”; e finalmente ouvimos o professor Thiago Sebastiano de Melo (UNB) com o trabalho Turismo, educação e acessibilidade: desvendando o turismo através de meios digitais”.


Apresentações de trabalhos
Apresentações de trabalhos

Depois da pausa para o almoço, aconteceu a segunda mesa do Seminário, “Saúde do(a) trabalhador(a): uma aproximação necessária para dignidade no turismo”, com palestras de Maria Maeno (Fundacentro), Isabella Maio (CGSAT/Ministério da Saúde), Thiago Sebastiano de Melo (UnB), e a mediação de Rafael Bastos (MST/CGSAT/Ministério da Saúde). Os palestrantes teceram importantes considerações sobre a saúde como direito e dever do Estado consagrado pela Constituição brasileira, e os desafios e dívidas de políticas sociais e econômicas que visem a diminuição de acidentes a adoecimentos causados pelo trabalho. Nessa direção, foi colocada a pergunta sobre como é possível pensar em um caminho para o desenvolvimento que não produza cada vez mais acidentes de trabalho. Isabella Maio colocou o problema da invisibilidade ou normalização dos acidentes de trabalho que, apesar dos avanços em direitos, ainda se mostram insuficientes. Thiago Melo propôs pensar o turismo como um dispositivo de promoção da saúde do trabalhador, apontando o papel da atividade na promoção de cultura, lazer e alimentação. Se trata, em sua opinião, de sair da abstração de pensar o turismo como deslocamento, considerando os antecedentes internacionais de promoção do turismo no próprio bairro ou vizinhança como estímulo ao lazer, mas também ao consumo e ao desenvolvimento do território. Nos provocou, finalmente, a agir para disputar a institucionalização do turismo nos conselhos, órgãos e conferências, para resgatar seu papel na promoção territorial, diminuindo sua responsabilidade na precarização do trabalho.   


Depois de um novo debate e uma nova pausa, tivemos a oportunidade de degustar um maravilhoso lanche servido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com produtos da Reforma Agrária e contando com frutas da estação, salgadinhos, bolos, biscoitos, suco e café. O lanche foi servido pelo MST nos três dias do evento.


Lanche com produtos da Reforma Agrária
Lanche com produtos da Reforma Agrária

Em seguida, retomamos as atividades do Seminário com a Mesa 3: “Trabalho digno e direito ao tempo livre sob ataque no Congresso Nacional”. A mesa contou com as palestras da professora Valquíria Padilha (USP), do professor Reinaldo Pacheco (USP), de Abel Santos (Movimento Vida Além do Trabalho) e de Marcos Verlaine (DIAP). Como o título da mesa anuncia, as questões colocadas pelos palestrantes versaram sobre a insuficiência (e por vezes inexistência) de tempo livre e descanso nas condições do capitalismo contemporâneos, orientado pela produtividade, pela aceleração do tempo, pelo culto ao consumo e uma cultura da conquista individual. Também foram levantadas questões relativas à transformação das cidades a partir das lógicas da gentrificação e da privatização, a partir da venda da gestão de espaços públicos para o capital especulativo (especificamente, no caso da cidade de São Paulo). Abel, dando voz às lutas dos trabalhadores plataformizados, nos lembrou que para muitos trabalhadores informais, ou que precisam acumular dois empregos para subsistir, o lazer nunca existiu. Se referiu à ilusão do empreendedorismo e do discurso motivacional, que muitas vezes funcionam como um canto de sereias que distanciam os trabalhadores da consciência de classe. Também mencionou o papel que teve, na sua trajetória, a opção por uma espiritualidade não cristã, que ele encontrou nos terreiros; assim como a luta social, que hoje também funciona como um horizonte ou destino. Por fim, Marcos Verlaine lembrou a importância da conquista alcançada no dia anterior mediante a aprovação na Câmara da MP sobre isenção de imposto de renda aos salários de até R$ 5.000. Chamou a atenção para o papel de legisladores que lutam pelos direitos dos trabalhadores e do povo brasileiro, e o risco de generalizações como “congresso inimigo do povo”. A mesa foi mediada pelo professor Renan Conceição (Labor Movens) e finalizou após um intenso debate sobre os desdobramentos das questões colocadas pela mesa.


A sexta-feira 3 de outubro foi o terceiro e último dia do Seminário no CET/UnB. Uma vez mais, a jornada foi iniciada de manhã, com as apresentações dos grupos de trabalho, que nesta ocasião reuniram pesquisas sobre “Trabalho em hotelaria, alimentos e bebidas, e eventos” e “Trabalho no turismo”. O primeiro GT contou com a participação de Wallace Bezerra Farias (USP), com o trabalho: “Futuro da carreira em hotelaria: um ensaio teórico a partir da perspectiva construcionista e psicossocial”, e a mediação de Bianca Briguglio (Labor Movens) e Aline Amorim (UFPE). O GT “Trabalho no turismo” foi mediado por Iraneide Pereira (IFPE) e Mariana Falcão (UFPE) e contou com 5 apresentações: “A realidade por trás dos panos: o trabalho das costureiras de fantasias de carnaval”, por Edilene Vilas Bôas B Corrêa (UnB); “Pesquisa do Perfil dos Guias de Turismo de Goiás: Fortalecendo a Categoria para um Turismo Responsável, Sustentável e Inovador”, por Diego Carneiro Oliveira (Observatório do Turismo do Estado de Goiás); “Festa do Morro da Conceição em Recife- PE: reflexões sobre a oportunidade de renda e a informalidade no trabalho gerado pelo evento”, por Iraneide Pereira (IFPE); “Motivações e desafios para o microempreendedorismo no agenciamento de viagens em Barreirinhas-MA", por Debora Rodrigues de Oliveira Serra (IFMA); e "Quem guia o guia? Trabalho, saúde e resistência dos guias de turismo do Rio de Janeiro", por Maria Heloisa dos Santos Silva (CEFET-RJ).


Às 14hs, depois da pausa para almoçar, teve lugar a quarta e última mesa do evento, com o título “Trabalho digno no turismo em tempos de eventos climáticos extremos”. A mesa contou com palestras dos professores Isabel Jurema Grimm (UFPR) e José Sobreiro Filho (UnB), e a mediação da professora Edilaine Albertino de Moraes (UFJF). A professora Isabel iniciou sua fala referindo-se aos conceitos de mudança e emergência climática, elencando dados do IPCC (The Intergovernmental Panel on Climate Change) sobre a cadeia produtiva do turismo, responsável por 8,8% das emissões globais. Assim, mencionou de que forma fenômenos como secas, temperaturas crescentes, inundações – entre outros – afetam a popularidade dos destinos e colocam em risco a população local. Contemplou também o papel da Agenda das Nações Unidas refletida nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, assim como os critérios ESG (Environmental, Social and Governance), que juntos direcionam a esfera da responsabilidade privada e das políticas públicas no caminho para o desenvolvimento sustentável. O professor José Sobreiro Filho pontuou a importância da participação social para dar visibilidade aos sujeitos atingidos pelas mudanças climáticas. Chamou a atenção para a necessidade de considerar o processo massivo e brutal de empobrecimento da população no modo de produção capitalista, que situa os atingidos em uma disputa pela acumulação. Citou também o caso da China, abordado em suas pesquisas para analisar o modo como o mundo é atingido de maneira desigual (em termos de produção, conservação da riqueza e responsabilidade pela emissão de gases de efeito estufa). Ponderou, finalmente, a perspectiva socioespacial privilegiada pela geografia e o papel da universidade na valorização da inteligência coletiva dos sujeitos e na qualificação da razão, recuperando o conhecimento prévio de cada um. A mesa foi encerrada com um debate sobre as tensões e dívidas da agenda de desenvolvimento sustentável no marco do capitalismo contemporâneo.


Depois da pausa para um lanche, tivemos a oportunidade de ouvir a palestra de encerramento proferida por Adriana Marcolino (DIEESE), sobre “Fronteiras de luta pela redução da jornada de trabalho”, mediada por Bianca Briguglio (Labor Movens). Em sua fala, Marcolino recuperou alguns momentos chave da história da luta em torno à jornada de trabalho, questionando características como duração, intensidade/ritmo e distribuição (relação entre tempo de trabalho e tempo de descanso). Se referiu também às chamadas “formas precárias” de trabalho, como o trabalho por tempo parcial, tipo de contratação em aumento na atualidade. Trouxe dados divulgados pela PNAD sobre a redução dos níveis de regulação da jornada e os impactos da reforma trabalhista, entre outros, que apontam para uma piora geral do mercado de trabalho e da negociação coletiva. A palestra encerrou com outros valiosos dados e análises sobre o contexto do engajamento dos trabalhadores na pauta da redução da jornada, assim como demandas específicas das mulheres trabalhadoras e dos jovens.


Após o debate, o terceiro dia de Seminário foi encerrado com uma breve fala da professora Angela Teberga, agradecendo os organizadores e público presente, e nos convocando para a elaboração de uma nota de posicionamento pelo fim do genocídio perpetrado contra o povo palestino na Faixa de Gaza pelo Estado de Israel. A professora celebrou o caráter amplo e diverso do Seminário, que contou com a participação de instituições de todo o país, entre as quais: Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), Cruise and travel tour, Fatec de São Roque, Goiás Turismo, Instituto Federal do Maranhão (IFMA), Instituto Federal de Pernambuco – Campus Recife (IFPE), Instituto Federal de São Paulo – Campus Cubatão, Observatório do Turismo do Estado de Goiás, Pós-graduação em Patrimônio Cultural do CEFET-RJ, Secretaria de Turismo, Universidade de São Paulo (USP), Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).   


O 5º Seminário Perspectivas Críticas sobre o Trabalho no Turismo finalizou no sábado, 4 de outubro, com uma visita técnica à Ceilândia, com o objetivo de conhecer de perto a história de luta e resistência da cidade. Saindo às 9hs do CET/UnB, a visita foi guiada por Bianca D'Aya, ex-aluna do curso de Turismo da UnB, guia de turismo e criadora do Tour Brasília Negra. O roteiro incluiu um city tour panorâmico na Esplanada dos Ministérios e Praça dos 3 Poderes; a visita à Casa GOG, onde o grupo foi recebido por uma das ativistas culturais que explicou os objetivos e atividades do centro cultural que luta pela "afrobetização” dos jovens na periferia de Brasília; visita à Casa do Cantador, espaço cultural que homenageia os imigrantes nordestinos que ajudaram a construir Brasília, com prédio projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer; a visualização da Caixa d’agua da Ceilândia; e uma visita com almoço na Cozinha Solidária do MTST (Sol Nascente), onde tivemos a oportunidade de conhecer a história de lutas e conquistas pela voz dos ativistas, e degustamos uma deliciosa feijoada preparada pelas cozinheiras do Movimento.


Finalizadas as atividades presenciais do evento, demos seguimento ao trabalho de elaboração dos certificados e avaliação coletiva do evento, quando concluímos que, apesar dos desafios, o Seminário do grupo de pesquisa alcançou os feitos de publicizar o tema, especialmente nas edições virtuais de 2020, 2021 e 2022, e aprofundar as discussões em relação a uma dimensão urgente no turismo, mas desconfortável ou provocador demais para muitos, sobretudo em 2023 e 2025. Mais do que isso, afirmamos que o Labor Movens se tornou um importante elo entre pessoas que constroem outras abordagens para o turismo e o colocam como ferramenta para forjar um projeto social vinculado ao bem-estar social coletivo e emancipado. Avaliamos, por fim, que devemos seguir, em 2027, com outro formato de evento, com menor expectativa de público, buscando fortalecer nossos afetos e socializar nossas pesquisas, com mais maturidade e coerência interna.


Nos vemos em 2027!

 
 
 

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