Problemáticas e conquistas de trabalhadores e trabalhadoras sindicalizados no Sindicato Único Gastronômico e Hoteleiro (SUGHU) em Maldonado, Uruguai
- Labor Movens
- há 7 dias
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Gabriela Campodónico e Mariciana Zorzi/ Universidad de la República del Uruguay
O turismo, enquanto fenômeno social e atividade econômica, está presente no Uruguai há mais de cem anos (Da Cunha et al., 2012; Trochón, 2017). O crescimento demográfico e o desenvolvimento econômico de algumas regiões do país estão historicamente relacionados à sua proximidade com as costas do Oceano Atlântico e do Rio da Prata. Nesta pesquisa, buscou-se compreender as principais problemáticas enfrentadas pelos(as) trabalhadores(as) sindicalizados(as), as formas de resistência e as conquistas alcançadas.
Atualmente, embora os campos de estudo tenham se ampliado, ainda predominam as pesquisas realizadas no setor hoteleiro. Por outro lado, são escassos os estudos que inter-relacionam as condições laborais do setor com o movimento sindical. Cañada (2020) destaca que o emprego no turismo é caracterizado, em grande medida, por grupos sociais que ocupam as posições mais baixas no mercado de trabalho, como mulheres e imigrantes de países empobrecidos.
Quanto à metodologia utilizada, as atividades de pesquisa foram pautadas pela utilização de uma metodologia qualitativa, oriunda da tradição antropológica em geral e etnográfica em particular, em interface com o trabalho de pesquisa em Turismo. Foi estabelecido como recorte temporal o período de 2005 a 2020, tendo em vista que no ano de 2005 foi criada uma filial do SUGHU no departamento de Maldonado. Em 2008, foram incorporados ao sindicato os(as) trabalhadores(as) do setor hoteleiro.
Por outro lado, o ano de 2020 foi marcado como o final do período de estudo devido à sua relevância pelas consequências da pandemia de Coronavírus. O SUGHU é a organização sindical do pessoal que atua de forma permanente e/ou eventual em serviços de hospedagem, bem como em qualquer estabelecimento comercial que manipule ou sirva produtos gastronômicos. Em nível nacional, o sindicato tem mais de 100 anos de trajetória.

Crédito Fotográfico: Manifestação do SUGHU Maldonado no Solanas Vacation Club. Imagem de Fabricio Terzaghi.
“O melhor sindicato é o que não existe” A trajetória do SUGHU em Maldonado. Principais reivindicações, problemáticas e conquistas
Por meio das entrevistas realizadas, foi possível identificar uma série de reivindicações e problemáticas enfrentadas pelo Sindicato, que revelam algumas das características das condições de trabalho na hotelaria e gastronomia em Maldonado.
Entre as reivindicações mencionadas pelas pessoas entrevistadas estão: contratos anuais, pagamento de feriados com remuneração (e não com folgas), redução da jornada de trabalho, aumento salarial, acesso a uniformes, ferramentas de trabalho e alimentação, cumprimento dos contratos e convenções coletivas, e contratação de pessoas qualificadas para cargos de chefia intermediária. A principal problemática enfrentada pelos(as) trabalhadores(as) entrevistados(as) é a discriminação e perseguição sindical, refletidas em ações como: demissão, assédio psicológico, sobrecarga de trabalho, humilhações e até agressão física.
Uma forma de assédio relatada por uma entrevistada foi o isolamento: após se filiar ao sindicato, o gerente começou a perseguir os funcionários que conversavam com ela. O assédio também se reflete nos horários e distribuição dos dias de trabalho. Segundo Lucía, as mulheres que questionavam eram sempre escaladas para os piores turnos, como o da madrugada — situação que perdurou por anos.
Esse sentimento é compartilhado por outras trabalhadoras, pois na maioria dos locais de trabalho são poucas as pessoas sindicalizadas. Lucía afirma: “Talvez apenas 1% se filie, e sofre muita repressão. É muito difícil. Eu comparo com o que acontece com as domésticas e com os trabalhadores rurais.”
A principal problemática ligada ao movimento sindical é a percepção de baixa sindicalização e participação dos(as) trabalhadores(as) no Sindicato. Nas narrativas, foi possível identificar fatores que contribuem para isso, como a sazonalidade e a alta rotatividade nos postos de trabalho dos estabelecimentos hoteleiros e gastronômicos.
O contrato de trabalho estável continua sendo uma das principais reivindicações do Sindicato, pois ainda predomina o contrato temporário. Essa instabilidade dificulta a renovação sindical, já que dificilmente alguém com vínculo temporário participará ativamente da organização; muitos sequer se filiam. Claudio relata que em seu setor o pessoal costuma participar mais ativamente do sindicato porque trabalham o ano todo.
O medo de perder o emprego é outro fator que impede ou enfraquece a participação sindical. Embora o Uruguai tenha liberdade sindical, episódios de perseguição e assédio intimidam outras pessoas. Em alguns casos, nada é mais importante do que manter o emprego — mesmo sendo precário.
Em nível nacional, destaca-se a aprovação da Lei Nº 18.856 (2012), que garante descanso semanal para os funcionários e funcionárias de estabelecimentos gastronômicos e hoteleiros. A lei estabelece a obrigatoriedade de 16 horas de descanso entre jornadas, ratificando o regime de 44 horas semanais. Outro marco foi o acordo assinado pelo SUGHU em 2018 com a Associação de Hoteleiros e Restaurantes do Uruguai (AHRU), estabelecendo 98 categorias profissionais na indústria hoteleira. Esse acordo responde ao problema da multitarefa e dos baixos salários, sendo um importante precedente para o setor.
Considerações finais
Nesse contexto, o fato de o sindicato estar ativo, manter uma sede e delegados(as) em vários centros de trabalho já representa uma conquista. Em diversas entrevistas com trabalhadores(as) sindicalizados(as), essa situação é descrita como uma vitória mantida ao longo do tempo.
As perspectivas de mudança são vistas a partir da representação sindical, por meio do fortalecimento das atividades de defesa dos(as) trabalhadores(as) e da inclusão, na educação em todos os níveis, do ensino sobre as formas de diálogo social e os direitos trabalhistas. Também se menciona a necessidade de promover a comunicação e o intercâmbio com os(as) trabalhadores(as) e filiados(as), utilizando meios digitais e impressos.
Referências bibliográficas
Cañada, E. (2020). Trabalho turístico e precariedade. Turismo: Estudos & Práticas (UERN), Mossoró/RN, v. 9 (Dossiê Temático 2), 1-21.
Da Cunha, N., Campodónico, R., Maronna, M., Duffau, N. y Buere, G. (2012). Visite Uruguay. Del balneario al país turístico 1930 - 1955. Montevideo, Uruguay: Ediciones de la Banda Oriental.
Trochón, Y. (2017). Punta del Este. El Edén Oriental (1907-1997). Montevideo: Fin de Siglo.
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